Participação feminina no debate sobre a defesa do meio ambiente

Gisele Bundchen concede entrevista para o Jornal o Globo em 10/7/2020 (https://oglobo.globo.com/ela/gente/a-conta-vem-nao-so-para-aqueles-que-causaram-dano-diz-gisele-bundchen-sobre-politica-brasileira-ambiental-24535559) e responde a questões importantes no debate da defesa do nosso meio ambiente. Semana passada pudemos comemorar o Dia da Floresta e, por essa razão, é de importância signiticativa a manifestação da modelo nesse momento.

Destaco apenas uma pergunta e uma resposta, para limitarmos um pouco o debate do tema.

Como defensora do meio ambiente, você já foi muito atacada — inclusive por agentes do governo. Como foi ser chamada de “má brasileira” pela atual ministra da Agricultura, Tereza Cristina?

Não levo para o lado pessoal. Sou uma pessoa íntegra e sempre carreguei o nome do meu país com muito amor e carinho. Tive a oportunidade de me comunicar com a ministra e esclarecer essa situação. Entendo a importância do agronegócio para o Brasil, mas também entendo que não é preciso derrubar mais nenhuma árvore para que tenhamos progresso. Por mais incrível que seja o poder de regeneração da natureza, leva dezenas de anos para recuperar aquilo que é destruído em minutos. O que precisamos combater é o desmatamento ilegal, a grilagem e as invasões de terra. A sociedade precisa estar atenta e vigilante, porque a floresta tem um papel fundamental no equilíbrio do clima, no regime de chuvas e, consequentemente, na vida de todos nós.”

Destaco aqui os trechos da notícia do Jornal o Globo para tratarmos o aspecto objetivo da opinião nesse momento, que é tratar a importância da participação feminina na defesa do meio ambiente. Vejamos:

“Gisele Bündchen queria festejar seus 40 anos, amanhã, com a família e os amigos, plantando árvores na Amazônia. A intenção era reflorestar a região que vem sofrendo com o desmatamento — em junho, um recorde foi quebrado na série histórica do mês, com 1.034,4 km² devastados, área quase do tamanho da cidade do Rio. “Queria chamar a atenção para a importância de preservamos o que já temos. Com a pandemia, isso não será possível”, conta a übermodel. Para a data não passar em branco, celebrará o aniversário em casa com o marido, o jogador de futebol americano Tom Brady, e os filhos, Benjamin e Vivian Lake. “Vou ter um bolinho.”

Da Flórida, onde vive, Gisele ficou pensando em como realizar seu desejo apesar da crise sanitária. Decidiu unir forças com o Instituto Socioambiental (ISA) para colocar em prática o plano de plantar 40 mil árvores. “Minha vontade é retribuir, de alguma forma, à mãe Terra por ter me nutrido todos esses anos. Desde que nascemos, ela nos provê tudo o precisamos: o ar que respiramos, a comida que comemos, as casas em que vivemos”, diz. “ Imagina que incrível se cada um plantasse uma árvore para celebrar o seu aniversário! Poderíamos regenerar o mundo.”

A participação das mulheres na defesa do meio ambiente é uma forma de estar presente na luta pelo desenvolvimento sustentável com justiça social. A relevância do assunto é objeto de artigo de Nina Madsen, Doutora em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e sócia do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), publicado pelo IPEA (https://www.ipea.gov.br/retrato/pdf/190215_tema_k_mulheres_brasileiras_na_luta_por_desenvolvimento_sustentavel_com_justica_social.pdf).

Destaco dois brilhantes trechos do artigo.

O primeiro é a lembrança da importância da Plataforma de Ação de Pequim. Vejamos:

“Não por acaso, portanto, o tema Mulheres e Meio Ambiente ter sido incluído como um capítulo específico da Plataforma de Ação de Pequim. O reconhecimento do quanto e de como as mulheres estavam sendo atingidas pelas mudanças climáticas, pela degradação ambiental e pelo movimento predatório do uso capitalista da terra; a denúncia das desigualdades e da violência sistemática (e sistêmica) vividas pelas mulheres rurais, pelas mulheres indígenas e pelas mulheres de comunidades tradicionais; e o entendimento sobre a necessidade de mais e novos espaços de participação para essas mulheres dentro e fora de suas comunidades foram as mensagens mais contundentes que a Plataforma de Ação de Pequim registrou.

Foram assim definidos seus objetivos: (1) envolver a participação da mulher na adoção de decisões relativas ao meio ambiente em todos os níveis; (2) procurar integrar as preocupações e as perspectivas de gênero nas políticas e programas em prol do desenvolvimento sustentável; e (3) fortalecer ou estabelecer mecanismos, em nível nacional, regional e internacional, para avaliar o impacto nas mulheres das políticas de desenvolvimento e ambientais.

Registra‐se, no texto da plataforma, a preocupação crescente com “o
esgotamento dos recursos, a degradação dos sistemas naturais e os riscos
provocados pelas substâncias que causam poluição” (ONU Mulheres, p. 235, 1995) e seu impacto nas comunidades e, especialmente, nas mulheres.”

O segundo trecho a ser destacado no artigo são as considerações finais, com os quais finalizo, por ora, a reflexão sobre os temas:

“A luta das mulheres pelo desenvolvimento sustentável e a preservação do
meio ambiente é uma luta cotidiana pela própria preservação – de seus corpos, de suas identidades e histórias, de suas comunidades e seus territórios. Se é verdade que elas são essenciais para a sustentabilidade da vida, é igualmente verdade que a garantia plena e irrestrita de seus direitos é absolutamente necessária para a sustentabilidade de suas próprias vidas.

Olhar para os vinte anos transcorridos depois de Pequim a partir das histórias das mulheres camponesas, indígenas e quilombolas é, ao mesmo tempo, encantador e assustador. Encantador pela força e capacidade sempre renovada de mobilização, organização e luta dessas mulheres; e assustador pela velocidade e violência do formato de desenvolvimento econômico que vem sendo autorizado e conduzido pelo Estado e governos brasileiros ao longo de todo esse período.

Ao voltarmos ao nosso início, aos objetivos definidos pela Plataforma de
Ação de Pequim para o eixo mulher e meio ambiente, é evidente a densidade do caminho percorrido. Conquistaram‐se direitos, espaço e participação. Por um lado, saíram fortalecidas, em sua organização e na consolidação de suas identidades, as mulheres do campo e da floresta. Mas, por outro lado, permanecem muitos e grandiosos os desafios.

A mudança na realidade de vida das mulheres e de seus meios – a garantia da vida viável e sustentável – carece do compromisso do Estado e do restante da sociedade. Em relação ao compromisso e ao trabalho das mulheres para produzir essa mudança, não há dúvidas, apenas crescem e se multiplicam.”

Melissa Areal Pires

Advogada

Especialista em Direito Aplicado aos Serviços de Saúde e Direito do Consumidor


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