Saúde e Cultura no Programa Política sem Rodeios de 31/7/2020

Hoje o @politicasemrodeios foi especial sobre políticas culturais no país, especialmente em nossa cidade do Rio de Janeiro.

Tivemos a oportunidade de falar sobre como é importante o papel da cultura nas práticas de saúde e como é relevante, no mundo pós pandemia, aproximarmos o direito à cultura do direito à saúde.

Pesquisa realizada em maio de 2020 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com cerca de 400 médicos de 23 estados e do Distrito Federal, correspondentes a 8% do total de psiquiatras do país, mostra que 89,2% entrevistados destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido à pandemia de covid-19. “O isolamento social mexe muito com a cabeça das pessoas”, comentou, em entrevista à Agência Brasil, o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva.

De acordo com o levantamento feito pela associação, 47,9% dos consultados tiveram aumento nos atendimentos após o início da pandemia. Essa expansão atingiu até 25%, em comparação ao período anterior, para 59,4% dos psiquiatras entrevistados.

Do total de entrevistados, 44,6% afirmaram ter percebido queda no número de atendimentos, por razões diversas, entre as quais interrupção do tratamento pelo paciente com medo de contaminação pelo vírus, restrições de circulação impostas pelas autoridades e redução no atendimento aos grupos de risco.

A pesquisa mostra também que 67,8% dos médicos receberam pacientes novos, que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos antes, após o início da pandemia e do isolamento social. Outros 69,3% relataram ter atendido pacientes que já haviam recebido alta médica, mas que tiveram recidiva de seus sintomas.

Antonio Geraldo da Silva destacou que alertou o governo sobre o surgimento da “quarta onda”, que é a das doenças mentais, como resultado dos impactos que a pandemia traria nos atendimentos e na saúde mental da população.

“Não se pode descuidar das doenças de pacientes mentais e da parte da saúde mental das pessoas”, observou.

O Ministério da Saúde firmou parceria com a ABP para garantir atendimento psiquiátrico aos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) que estão na linha de frente do combate à covid-19. O Amazonas foi um dos primeiros estados atendidos.

Antonio Geraldo da Silva informou que cerca de 900 mil profissionais do SUS vão receber questionários “para saber sobre a saúde mental deles, com a preocupação do tipo cuidando do cuidador”. A ABP apoia também outra sondagem sobre a saúde mental do povo brasileiro, para identificar as doenças que vão aparecer mais neste período de pandemia.

O presidente da ABP afirma que levará ao Ministério da Saúde os resultados da pesquisa com os psiquiatras, mostrando que há crescimento das doenças mentais no país. “A gente precisa fazer uma política pública mais direcionada para atender a essas pessoas que estão sofrendo. A gente precisa, com urgência, cuidar dessa quarta onda, que é a das doenças mentais, dos transtornos traumáticos. Não dá para esperar. Isso é gravíssimo”, afirmou.

E o que isso tem a ver com políticas culturais?

Estudo feito pela OMS no final do ano passado apontou que a arte traz para a vida das pessoas por meio de atividades como dançar, cantar e ir a museus e shows, o real significado de saúde, segundo a instituição: “um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.”

A diretora regional da OMS para a Europa, Piroska Östlin afirma que as artes consideram a “saúde e o bem-estar num contexto social e comunitário mais amplo e oferecem soluções que a prática médica comum até agora não conseguiu abordar de maneira eficaz.”

Nos serviços de saúde, o estudo apontou que as atividades artísticas podem ser usadas para complementar ou aprimorar os protocolos de tratamento, além de poderem ser usadas para reduzir os efeitos colaterais do tratamento de doenças como o câncer e o parkinson, por exemplo.

Por fim, o estudo destaca que intervenções artísticas podem produzir resultados mais econômicos que os tratamentos medicamentosos, por exemplo.

Já é uma realidade no mundo todo o desenvolvimento de sistema de prescrições sociais e artísticas, com o encaminhamento de pacientes para essas atividades, por médicos da atenção básica.

Portanto, seria de grande importância os candidatos às próximas eleições abordarem a temática da valorização da cultura também como política pública de saúde.

Fonte: Agência Brasil e ONU News

Melissa Areal Pires

Advogada Especialista em Direito Aplicado aos Serviços de Saúde e Direito do Consumidor

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